Sonia M. Vanzella Castellar
BNCC e ensino de Geografia - Parte I
Há algum tempo se estuda e discute como trabalhar com a Geografia em sala de aula, de modo a torná-la uma disciplina mais envolvente e significativa, superando a ideia da Geografia como pura descrição de fatos e fenômenos. O objetivo central de estudar esse componente é analisar a realidade, ler o mundo e estudar as inter-relações entre as sociedades humanas e os processos naturais, em diferentes contextos e tempos históricos. Estudar Geografia coloca-nos diante do mundo, com um olhar que nos permite compreender a dinâmica dos lugares, suas paisagens, o território, a configuração territorial e os sistemas locacionais, entre outras categorias. Seu estudo, portanto, permite-nos compreendê-las a partir das relações de produção e sociais, das ocupações; e, por meio da leitura dos lugares, interpretar as espacialidades das organizações dos espaços geográficos. Isso significa potencializar um olhar diferente para as coisas, um olhar geográfico.
A Geografia escolar estimula a pensar sobre as categorias (conceituais e espaciais) e procedimentos que nos permitem analisar a realidade, raciocinando sobre os fatos e fenômenos, identificando o que pode ser generalizado. As escalas de análise e as cartográficas, a linguagem cartografia e outros tipos de representações nos ajudam a entender os processos de mudança dos lugares, observando-os e raciocinando sobre eles, estimulando o pensamento complexo para compreender, ordenar, ter lógica na análise dos fatos, fenômenos e a distribuição dos objetos técnicos. As representações cartográficas têm importância não apenas para localizarmos os dados e as informações geográficas, mas por oferecerem condições de investigar os indícios que nos explicam os porquês das localizações, o sentido dos sistemas de ações e objetos serem desempenhados naquele ponto e suas interdependências, a mutualidade de relações entre tais sistemas, em diferentes níveis de detalhe. Esse papel de analisar os conteúdos espaciais pode ser feito com base nos conceitos espaciais (arranjo, rede, analogia, padrão, extensão, por exemplo), de modo a favorecer a criação de conexões entre os diferentes lugares da superfície da Terra.
A Geografia escolar no currículo
Para tratar da Geografia escolar no currículo se faz necessário apresentar o sentido da própria ciência geográfica. Procura-se dar uma especificidade ao conteúdo e mostrar como, por que, para que e para quem deve-se ensinar Geografia. Um ponto a ser destacado é a necessidade de se compreender a espacialidade dos fenômenos a partir dos objetos técnicos e suas funções nas localizações. Isso significa dizer que se trata de desenvolver subsídios que permitam às análises geográficas desvendar, com base em seus atributos locacionais, por que galpões industriais poluentes e barulhentos, conectados por ruas largas e servidos por pontos de ônibus e estações de metrô, estão, quase sempre, mais próximos dos loteamentos populares que dos condomínios de elite? Trata-se de explicar — com e pelas representações e questionamentos que partam dos conhecimentos prévios dos estudantes, relacionando as funções, as formas e as estruturas — as configurações territoriais e os territórios usados, produzidos espaço-temporalmente pelos movimentos e tensões dos modos de produção das sociedades humanas.
É justamente nesse sentido, com essa base epistemológica da teoria da Geografia, que a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) propõe colocar no centro do estudo desse componente o desenvolvimento do raciocínio geográfico. Esse raciocínio está amalgamado ao estatuto epistemológico da Geografia. Isso significa que a preocupação central está na maneira de ver e pensar a Geografia em distintos tempos e contextos. O Estatuto epistemológico da Geografia foi sistematizado pelos autores clássicos das ciências geográficas e está presente na Geografia escolar sustentando um modo específico de pensar a realidade: o raciocínio geográfico. Usar como lente uma teoria do espaço que permita ao geógrafo um raciocínio, “uma maneira de organizar o pensamento que coloca em prioridade o desenho, o traçado, quando consideramos a localização das coisas, pessoas e fenômenos”, como afirma Gomes, (2017: p. 146), uma teoria voltada a entender as coisas, à criação de um sistema locacional que permita explicar por que as coisas estão onde estão, por que são diferentes quando aparecem em outras localizações, exige um raciocínio complexo e sofisticado.
Um raciocínio complexo do ponto de vista da Geografia requer compreender as categorias e associá-las aos princípios (distribuição, extensão, distância, posição, arranjos, conexão, entre outros) e à linguagem cartográfica em todas as formas de representar (mapas, gráficos, tabelas, fotografias, pinturas, fotos aéreas). Nesse sentido, a proposta curricular da BNCC para Geografia nos anos finais do Ensino Fundamental estimula o raciocínio complexo, pois entende a organização e produção espacial a partir das situações do cotidiano e propõe um ensino que adote a investigação e a resolução de problemas como rotas para o aprendizado.
Em Geografia, a BNCC propõe um ensino com foco na aprendizagem, ou seja, no aluno. As habilidades associam os conteúdos em ordem crescente de complexidade (do simples para o mais complexo) mas consideram a faixa etária do aluno, sua capacidade cognitiva de lidar com o conhecimento científico, de entendê-lo e dele se apropriar. Essa lógica de construção está fundamentada na capacidade do aluno em generalizar, habilidade que se desenvolve ao mesmo tempo em outros componentes. Por exemplo, em Língua Portuguesa, o aluno pode aprender a ler e a distinguir diferentes gêneros textuais; em Geografia, o estudante pode ler um mapa ou qualquer outro produto cartográfico, relacionando os símbolos e seus significados aos contextos dos processos envolvidos em um conteúdo temático estudado. Para isso, é preciso, porém, entender e dar sentido aos dados espaciais representados por variáveis visuais. Assim, o aluno interage com o universo do conteúdo geográfico, analisa e assimila, apropriando-se dos conceitos fundamentais para entender um fenômeno ou formular hipóteses sobre um problema. Por isso, leva-se em conta na BNCC a dimensão cognitiva das crianças e também as socioemocionais, sugerindo a importância de se realizar um planejamento entre o 5º e o 6º anos que considere as articulações necessárias de conteúdo para diminuir as rupturas entre os anos, respeitando a passagem dos anos para outro momento de sua vida escolar.
Nesse sentido, a contribuição da BNCC de Geografia é sobretudo de fundo epistemológico, pois foca o desenvolvimento do raciocínio geográfico, aqui já definido, a partir das categorias e princípios da Geografia, considerando a linguagem cartográfica e o pensamento espacial. Para tanto, é necessário assegurar a apropriação e a associação, sobretudo, dos princípios de analogia, conexão, diferenciação, distribuição, extensão, localização, ordem/arranjo e causalidade por meio de atividades que estimulem a resolução de problemas e a argumentação dos alunos.
Entender a localização e as conexões entre os lugares, por exemplo, desenvolve o raciocínio geográfico, na medida em que o aluno entende por que os lugares são dessa e não de outra forma ou por que estão localizados, distribuídos de uma dada maneira. A análise das informações geográficas é uma estratégia para os alunos aplicarem os conceitos, princípios e as habilidades espaciais em situações do dia a dia, como, por exemplo, entender os impactos socioeconômicos e ambientais nos diferentes territórios ou os arranjos das áreas urbanas e rurais em distintos contextos e tempos.
Não deixe de conferir o restante do artigo em nossa próxima publicação.
A Geografia escolar estimula a pensar sobre as categorias (conceituais e espaciais) e procedimentos que nos permitem analisar a realidade, raciocinando sobre os fatos e fenômenos, identificando o que pode ser generalizado. As escalas de análise e as cartográficas, a linguagem cartografia e outros tipos de representações nos ajudam a entender os processos de mudança dos lugares, observando-os e raciocinando sobre eles, estimulando o pensamento complexo para compreender, ordenar, ter lógica na análise dos fatos, fenômenos e a distribuição dos objetos técnicos. As representações cartográficas têm importância não apenas para localizarmos os dados e as informações geográficas, mas por oferecerem condições de investigar os indícios que nos explicam os porquês das localizações, o sentido dos sistemas de ações e objetos serem desempenhados naquele ponto e suas interdependências, a mutualidade de relações entre tais sistemas, em diferentes níveis de detalhe. Esse papel de analisar os conteúdos espaciais pode ser feito com base nos conceitos espaciais (arranjo, rede, analogia, padrão, extensão, por exemplo), de modo a favorecer a criação de conexões entre os diferentes lugares da superfície da Terra.
A Geografia escolar no currículo
Para tratar da Geografia escolar no currículo se faz necessário apresentar o sentido da própria ciência geográfica. Procura-se dar uma especificidade ao conteúdo e mostrar como, por que, para que e para quem deve-se ensinar Geografia. Um ponto a ser destacado é a necessidade de se compreender a espacialidade dos fenômenos a partir dos objetos técnicos e suas funções nas localizações. Isso significa dizer que se trata de desenvolver subsídios que permitam às análises geográficas desvendar, com base em seus atributos locacionais, por que galpões industriais poluentes e barulhentos, conectados por ruas largas e servidos por pontos de ônibus e estações de metrô, estão, quase sempre, mais próximos dos loteamentos populares que dos condomínios de elite? Trata-se de explicar — com e pelas representações e questionamentos que partam dos conhecimentos prévios dos estudantes, relacionando as funções, as formas e as estruturas — as configurações territoriais e os territórios usados, produzidos espaço-temporalmente pelos movimentos e tensões dos modos de produção das sociedades humanas.
É justamente nesse sentido, com essa base epistemológica da teoria da Geografia, que a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) propõe colocar no centro do estudo desse componente o desenvolvimento do raciocínio geográfico. Esse raciocínio está amalgamado ao estatuto epistemológico da Geografia. Isso significa que a preocupação central está na maneira de ver e pensar a Geografia em distintos tempos e contextos. O Estatuto epistemológico da Geografia foi sistematizado pelos autores clássicos das ciências geográficas e está presente na Geografia escolar sustentando um modo específico de pensar a realidade: o raciocínio geográfico. Usar como lente uma teoria do espaço que permita ao geógrafo um raciocínio, “uma maneira de organizar o pensamento que coloca em prioridade o desenho, o traçado, quando consideramos a localização das coisas, pessoas e fenômenos”, como afirma Gomes, (2017: p. 146), uma teoria voltada a entender as coisas, à criação de um sistema locacional que permita explicar por que as coisas estão onde estão, por que são diferentes quando aparecem em outras localizações, exige um raciocínio complexo e sofisticado.
Um raciocínio complexo do ponto de vista da Geografia requer compreender as categorias e associá-las aos princípios (distribuição, extensão, distância, posição, arranjos, conexão, entre outros) e à linguagem cartográfica em todas as formas de representar (mapas, gráficos, tabelas, fotografias, pinturas, fotos aéreas). Nesse sentido, a proposta curricular da BNCC para Geografia nos anos finais do Ensino Fundamental estimula o raciocínio complexo, pois entende a organização e produção espacial a partir das situações do cotidiano e propõe um ensino que adote a investigação e a resolução de problemas como rotas para o aprendizado.
Em Geografia, a BNCC propõe um ensino com foco na aprendizagem, ou seja, no aluno. As habilidades associam os conteúdos em ordem crescente de complexidade (do simples para o mais complexo) mas consideram a faixa etária do aluno, sua capacidade cognitiva de lidar com o conhecimento científico, de entendê-lo e dele se apropriar. Essa lógica de construção está fundamentada na capacidade do aluno em generalizar, habilidade que se desenvolve ao mesmo tempo em outros componentes. Por exemplo, em Língua Portuguesa, o aluno pode aprender a ler e a distinguir diferentes gêneros textuais; em Geografia, o estudante pode ler um mapa ou qualquer outro produto cartográfico, relacionando os símbolos e seus significados aos contextos dos processos envolvidos em um conteúdo temático estudado. Para isso, é preciso, porém, entender e dar sentido aos dados espaciais representados por variáveis visuais. Assim, o aluno interage com o universo do conteúdo geográfico, analisa e assimila, apropriando-se dos conceitos fundamentais para entender um fenômeno ou formular hipóteses sobre um problema. Por isso, leva-se em conta na BNCC a dimensão cognitiva das crianças e também as socioemocionais, sugerindo a importância de se realizar um planejamento entre o 5º e o 6º anos que considere as articulações necessárias de conteúdo para diminuir as rupturas entre os anos, respeitando a passagem dos anos para outro momento de sua vida escolar.
Nesse sentido, a contribuição da BNCC de Geografia é sobretudo de fundo epistemológico, pois foca o desenvolvimento do raciocínio geográfico, aqui já definido, a partir das categorias e princípios da Geografia, considerando a linguagem cartográfica e o pensamento espacial. Para tanto, é necessário assegurar a apropriação e a associação, sobretudo, dos princípios de analogia, conexão, diferenciação, distribuição, extensão, localização, ordem/arranjo e causalidade por meio de atividades que estimulem a resolução de problemas e a argumentação dos alunos.
Entender a localização e as conexões entre os lugares, por exemplo, desenvolve o raciocínio geográfico, na medida em que o aluno entende por que os lugares são dessa e não de outra forma ou por que estão localizados, distribuídos de uma dada maneira. A análise das informações geográficas é uma estratégia para os alunos aplicarem os conceitos, princípios e as habilidades espaciais em situações do dia a dia, como, por exemplo, entender os impactos socioeconômicos e ambientais nos diferentes territórios ou os arranjos das áreas urbanas e rurais em distintos contextos e tempos.
Não deixe de conferir o restante do artigo em nossa próxima publicação.
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